querida Sephora:

já me conheces há muitos anos, desde que te vi nos Champs Élysées (que fina), ainda antes sequer de apareceres por cá.

já te dei muito, já me trouxeste muito.

aturo-te muitas manhas: as marcas que descontinuas, as outras que nem sequer por cá aparecem, o total desconhecimento de produtos que já foram lançados no estrangeiro e por cá nem se sabe o que são, a música infernal, as amostras ridículas (não sei se acho pior quando me pespegam um saco de praia ou duas amostras miseráveis de perfumes quando gasto largas dezenas — e às vezes mais de uma centena — de euros de uma vez), os testers inexistentes, os testers sujos, os testers que falsamente me levam a pensar que existe aquela cor e afinal não há, o ser olhada de lado porque não ando de stilettos e mala pendurada no antebraço, o ser olhada de lado quando pergunto por coisas que nem sequer sabem do que estou a falar, o ser olhada de lado quando testo a cor de uma base no maxilar sem pedir opinião externa e saio para ver se oxidou à luz do dia, os produtos em “promoção” que afinal já foram abertos e usados, o facto de o site nacional ser uma aberração, o chamarem “palete” a uma paleta… enfim, uma miríade de coisas que me faz às vezes pensar em mudar de carreira e tomar conta de ti como mereces…

bom, mas, desta última, não sabia se havia de rir ou de chorar: detentora do cartão Gold (eu disse-te que te dava muito), recebi um SMS para assistir ao lançamento da Marc Jacobs Beauty. passando ao lado do facto de achar que há muitas outras marcas mais merecedoras de estar à venda nas tuas instalações, entendo que precises de atrair a um certo target e, levada pela curiosidade e por por acaso não ter nada que fazer naquela tarde, fui lá.

o que me esperava era o seguinte quadro: um DJ (como se a música aos berros não fosse já uma cena tua), um balcão mesmo à entrada da loja (que impossibilitava a circulação civilizada de pessoas) onde se podiam maquilhar de borla os clientes mas só se estavam a maquilhar os funcionários uns aos outros, meninas com tabuleiros de bebidas e acepipes, e equipas de vídeo e fotógrafos. atente-se que, particularmente, estes dois últimos não me esperavam a mim — aliás, tive de me esquivar de vários para não tropeçar neles ou levar com uma câmara do Benfica TV na testa enquanto tentava, efectivamente, chegar ao expositor…
pior, não havia maneira de chegar ao dito expositor da marca sem se ser filmado ou fotografado. já abordado por alguém a mostrar a marca, ’tá quieto.

depois de se conseguir entrar, era fazer slalom entre as “pessoas interessantes&interessadas” que para ali estavam de copo na mão a falar da vida no banco ou a ser perseguidas pelos repórteres, para chegar ao balcão da própria da marca que estava a ser lançada. chegada ao balcão, já tinham desaparecido 90% dos testers e produtos (ou será que nunca lá estiveram para começar?).
pessoas disponíveis para falar comigo e mostrar-me a nova marca? zero.

saí de lá com um kit de 30€ de rímel + amostra de lápis + mini-batom para experimentar no sossego do meu lar. curiosamente, apesar de ter comprado uma coisa da marca, o saco que me deram não dizia “I love Marc Jacobs” ou lá o que era que vi sair em barda nas mãos das “pessoas interessantes&interessadas”, o que me leva a crer que, para esses, eram goodie bags (borlas, em Português).

sugestões:

  1. se têm mesmo de ter disso, ponham a mesa do DJ encostada a uma parede para as pessoas não tropeçarem em trezentos cabos e terem de fazer a rotunda da música para chegar aos produtos;
  2. onde estava a mesa do DJ era o sítio perfeito para o balcão de “vamos maquilhar-te com esta marca espectacular”, para não entupir a entrada;
  3. em vez de terem funcionários a maquilhar-se uns aos outros, que tal uma demonstração de um maquilhador da marca numa das pessoas convidadas (pronto, pode ser uma das “pessoas interessantes&interessadas”), a demonstrar as capacidades dos produtos ao vivo e a cores?;
  4. criarem lá mesmo ao fundo a tal secção obrigatória de entrevistas e fotografias, onde só é apanhado quem quer, em vez de os câmaras andarem a agredir pessoas e a bufar porque o cliente se atreve a estar no caminho dele e da “pessoa interessante&interessada”;
  5. já que convidam através de sms em massa, prepararem-se minimamente para, a partir da hora marcada, aparecerem mesmo clientes daqueles a sério, que querem conhecer a coisa como deve ser, e NÃO querem ouvir música aos berros, ser agredidos por videógrafos, tropeçar em cabos e fazer slalom entre acepipes para chegar a um expositor vazio de produtos…

sei que parece negativo, mas vejam isto como… uma visão original para um lançamento de uma marca, que passa por não apostar tudo num DJ…

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